A Rainha parte II

Não pode ser uma rainha do marinanço, porque esta não sabe marinar.
Cozinha apenas o essencial.
Normalmente sai do trabalho a horas tardias. Passa no supermercado e compra qualquer coisa fácil para fazer no forno.
Pelo caminho liga a um dos amigos que fazem parte da sua extensa lista telefónica e convida-o para jantar.
Gosta de ter companhia.
Mas também gosta de estar sozinha para fazer aquilo que bem lhe apetecer.
Quando tem um amigo para lhe fazer companhia, põe a mesa com o seu bom gosto habitual.
Quando não tem, pega num tabuleiro e já está.
Quanto menos trabalho melhor.
O emprego já lhe dá trabalho suficiente.
Gosta muito do que faz.
Tem um ordenado satisfatório. Uma casa simpática.
É ambiciosa.
É atraente e sensual.
Mas voltemos ao que interessa. Às relações.
A rainha é exigente.
Não se contenta com o primeiro homem que lhe aparece à frente.
Gosta de homens inteligentes, com alguma sensibilidade, ambiciosos, bonitos, bons conversadores, e com uma performance sexual acima da média.
Ora como isto não é fácil de encontrar, a rainha continua a sua procura.
Sem stress. Se não encontrar paciência. Tem mais com que se preocupar. E esta é a última das suas preocupações.
Nos entretantos vai mantendo uma espécie de harém à sua volta.
Uns são inteligentes, outros são bons conversadores, há os que são bonitos, os que são ambiciosos e os que são apenas bons na cama.
Já que não tem tudo num só homem, tem um para cada ocasião.
A maioria está apaixonada por ela.
Bastaria uma palavra de incentivo para que caíssem a seus pés.
Isso maça-a.
Precisa que lhe dêem luta.
Cansa-se ao fim de umas horas na sua companhia.
Diz que tem sono e delicadamente eles vão-se embora.
Invariavelmente vão-se embora.
A rainha não partilha o seu leito com qualquer um.
Às vezes, numa noite de loucura, deixa que partilhem com ela por umas horas a sua cama.
Depois de satisfeita, diz-lhes que tem que acordar cedo no dia seguinte.
E eles vão-se embora.
Mas voltam sempre.
Basta um telefonema. Uma palavra de carinho. Eles voltam sempre.