Crónica de Uma Vida (Neurótica) Moderna

Caro Pai Natal,

Escrevo-te esta missiva porque ainda acredito em ti, tanto como acredito na seriedade do presidente do Banco Privado Português. Gostaria por isso de chamar a tua atenção para a minha recente rotina, na esperança que me contemples com a tua generosidade no próximo dia 25.

Há duas semanas que não consigo chegar a casa a horas decentes. O meu gato decidiu urinar fora da caixa, talvez em sinal de protesto contra as minhas ausências prolongadas. Mostrei-lhe que o perdoava, mas isso não altera o facto de ter que limpar o xi-xi. Quem disse que animais domésticos eram bons para o stress deve ter cágados!

O que eu queria mesmo era dormir 14 horas seguidas. Sem telemóveis, nem horários, nem tarefas. Mas não é por isso que te escrevo - reconheço que este talvez não tenha sido o ano em que me portei melhor, mas foi apenas por falta de oportunidade - sabes que no íntimo sou tão boazinha como a Maria da «Música no Coração» e até essa de vez em quando devia dar uns tabefes nos sete enteados.

Já me conheces há tempo suficiente para saber que não sou menina de pedir coisas no Natal e já que ignoraste os meus anteriores pedidos de um homem decente, bem podes levar a tua fama para outro lado. Não me venhas com histórias que a única maneira de conhecermos o homem perfeito é parindo-o, porque não é isso que tenho para te pedir.

Na verdade, se a tua generosidade chegar a tanto, gostaria que remetesses esta missiva para a tua esposa Mary Christmas que deve ser uma tipa que no momento de escolher os presentes não desilude...

Desta que se assina...

Kit Kat